Monday, May 24, 2010

O Jogo

O olhar de Moctezuma

Certa vez, olhando para o horizonte uma visão se fez iluminar à Moctezuma, viu seu império desvanecer entre sombras. Permaneceu ali, no entanto, rijo, estático em sua magestosa laje aberta para o Atlântico. Não viu - pois seu imaginário não podia lhe oferecer nada nesse sentido - que alinhavam-se neste horizonte iluminado, as caravelas que traziam os atores da trágica consumação do seu devaneio.
Não viu chegar às margens de sua morada, senão os deuses profetizados num outro tempo, numa outra imaginação.
Não viu a urgência de seu tempo, a contingência lhe pedindo ação ao invés de contemplação. Era ele o poder ali instalado que organizava a hierarquia daquele povo, daquela gente que se prostrou diante do mistério vindo dos mares distantes feito sombras pairando sobre as águas. Não soube fazer ser outra realidade que não a do holocausto que abateu sobre os seus. Não havia ali enhuma possibilidade de argumentar uma aliança. E deu-se assim o destino (?), desvaneceu uma era, da qual nada ou quase nada se sabe senão o que as sombras de uma mentalidade alheia pode compreender. Não há aqui culpados, nem inocentes, há o processo histórico em seu devir. Contudo, outra visão hoje se avulta no horizonte próximo, uma visão que ilumina um destino inexorável para todos nós agora, e antevisto pelas atuais magestades em suas lajes de mármore. Que fazem delas então os que em sua mão detém o poder sobre os passos de tantos povos?

Thursday, May 20, 2010

Dizer a Arte

Muito já se disse sobre a Arte.
Disseram que ela morreria um dia, e mesmo, que ela já morreu , inclusive. Evidentemente isto não é verdadeiro.
Verdade também é que muito se dirá ainda sobre a Arte, pois nunca se terá dito o suficiente para dar conta de tudo o que ela significa para a humanidade.
E as razões para isto ser credível são simples.
A primeira delas é que a Arte é a mais fiel expressão direta do que chamamos “espírito humano” – seja lá qual for o significado que atribuamos a esta designação. E a prova disto é que toma-se a Arte, ou a Obra de Arte, como um fator distintivo, primordial, para aferir o grau ou nível de desenvolvimento de uma cultura que já não existe mais. Na Arte está todo o conhecimento de uma época, bem como seus valores morais, filosóficos, além da ciência e política, mas, sobretudo, estão os sonhos mais íntimos que impulsionaram estas sociedades a se constituírem tal como o fizeram.
A Arte, entendida deste modo, portanto, expressa um valor que é intrínseco, imanente, sendo capaz, por isto, de ultrapassar as fronteiras materiais, finitas, para instaurar, por si só, percepções do desenvolvimento “espiritual” ou o que há de eterno nos modelos civilizacionais. Isto porque, e esta é a segunda razão, a Arte coincide com a essência que nos torna “humanos”, ou seja, nossa capacidade de criar uma linguagem e expressar nossas apreensões do mundo de forma concreta.
A Arte é a primeira “fala” do homem, e no sentido da capacidade de irmos ao mais profundo de nosso ser, é a última “fala”.
Assenta nessa percepção, seja a de que a Arte não pode estar morta ou de que ela não morrerá enquanto o homem existir sobre a face da Terra, a iniciativa deste espaço reflexivo. Um espaço na blogosfera que privilegia a “fala” da Arte e seu modo peculiar de “dizer”.

Monday, May 17, 2010

..luzes...pincéis...ação!

Quando tudo parecia ter sido feito, uma luz destacou na paisagem uma nova possibilidade, e de súbito o gênio percebeu, seria naquele instante ou nunca mais: tudo precisava ser dito mais uma vez, criar o novo era apenas trazer à luz o que era forte o suficiente desde os primórdios da aventura humana na transformação da matéria. Era pura repetição dos padrões que há milênios encantaram a visão humana, lançando o espírito em veredas desconhecidas mas, paradoxalmente, já percorridas pela alma.

Ser poeta não, poder sê-lo!


Iludir pareceu ser sempre o ofício dos grandes artistas. Disse o poeta que é preciso poder ser, antes de ser poeta, e o fato é que tudo converge para esta máxima: poder ser!
Poder iludir-se, no caso da Arte, é talvez a primeira condição para engendrar na alma uma porta de saída...ou talvez de entrada, para o mundo da visibilidade, carregando nas mãos a vontade de ser além de si, de encontrar-se nos "universais", na "humanidade", esta idéia sublime que não é senão mais um poema, um sonho da vontade de poder ser todos nós.


A Visão essencialista

Ultrapassadas todas as barreiras sociais, uma a uma deixadas no limbo dos arquivos dos imensos escritórios vazios, surge o gesto, um homem se lança sobre o mundo. De onde olha, tudo é luz flamejante. Arde em seu vigor o viço da natureza. É um homem tempestade que se avoluma num horizonte intangível, ameça precipitar da pura essência do ser sobre o chão asfaltado da razão instrumental e lavá-lo. Leva consigo tudo que toca, tudo que encanta, tudo que merece ser visto e pensado de modo extremo. Vincent. Uma sombra negra na paleta comedida de uma época pudica no toilet, mas selvagem na dominação mercantil, voraz nas terras da América e em África, povoada pelos imperialistas, o conservador, que pede mais vinho branco para deleitar-se com suas amantes caídas de seios nus. Vincent, o pastor que dispersou as ovelhas desta sociedade em direção ao abismo de sua indignação. No olho dos corvos ele soube ver seu destino apaixonado antes que pudessem retê-lo por mais tempo numa inútil tarefa de cantar para surdos. Vincent, o record da especulação sobre a Arte. De onde olha, nada vê, senão corvos num milharal.

Artaud


Toda vida é trágica. O é por natureza, por ter em si o germe da finitude, da corrupção substancial do que a fez vir a ser. Toda vida é movimento. E o é por pura tragédia, pois de outro modo, seria eterna, seria vista imobilizada num ato de beleza assustadora, plena e inefável.
Todo ato é uma ilusão, pois em si não existe, senão num passado ausente, que devorado pelo eterno mover-se da vida, se revela apenas naquilo que consideramos conscientemente. Não há nada na cena que não seja ato sem fim, reflexos da trágica vida em movimento. 
 

e o que é isto - o tempo?

Saturday, May 15, 2010

História em movimento

São muitos os equívocos que se instalaram desde o encontro do chamado Velho Mundo com o suposto Novo Mundo, a começar pela idéia que estes nomes evocam. Sendo impossível determinar o verdadeiro passado dos povos que habitavam a "América", e tampouco, qual teria sido seu destino, se ambas as "civilizações" se encontrassem, ao menos, três séculos mais tarde do que ocorreu, caberia assentir, com urgência, com a necessidade de uma atualização histórica, que nos poupe de deformações tão primárias.

Saturday, May 01, 2010

amor....




e o que é o amor,
senão a busca em vão
um desvio
para o mergulho sem fim
salto súbito
ato único  impossível
que se sente passo a passo,
pisar no que não dá para dizer
e nunca chegar senão aonde já se está
é vôo lancinante sem rota nem destino
pura sina das horas imprecisas
duma eternidade precisa  
é língua sibilando sombras nas paredes
nos quartos vazios entre serpentes
assaltando o pouso de um sono seguro
da ave em volta do ninho
que é o amor?
este gesto extraordinário  
desejo puro de sentido impermeável  
a toda vontade de nexo raso
Dizem os poetas que é chama ardendo,
que é infinito enquanto dura,
dizem filósofos que é força e atração,
ordenando o kaos...a fonte da dor,
que nunca cessa, e por isso é belo
que nos poetas é virtude,
mas é origem das batalhas,
que é inefável,
mas é paixão que desata os nós racionais.
o amor é isto que vive
isto que, sem ele, não há porque
pois é ignorar o que é a vida
mas como saber o que é o amor
se nada do que é "saber"
pode vir a ser isto que ele é?

Diria Feürbach, que a razão só responde ao pensamento.
Mas e o sentimento (?), a questão primeira do ser  confrontando o mistério do ser ?
Ninguém é verdadeiramente sábio...talvez,isto sim, há quem seja um simples apaixonado... pelo amor.
As Musas, se amam, amam o amor que reside naquilo que o Aedo sente, naquilo que suas palavras cantam, vivas em seu modo de pensar.
Assim eu penso.
Se ousasse tentar dizer mais, poderia parecer verso, mas já disse o Tom: "nossos
versos são banais"...Triste é o amor do amador...e nessa tradução impossível do
amor, eles, os apaixonados pelo amor,  vertem obras, e encantam, como as Musas, inspiram ilusões cantadas, boleros do Jobim, lágrimas pensadas, uma a uma, numa
construção...como se fosse a última, até acabar no meio do passeio
público, atrapalhando a contramão da estupidez néscia dos homens que não amam, tampouco são amados, como se fosse lógico...como se
fossem  príncipes... que imersos em seu negócios, deixam suas máquinas maquiavélica estacionadas em local proibido pelos deuses.
Tristes e sós.