Wednesday, June 05, 2013

...sempre "antes de si mesmo", o gênio busca em si o que vê oculto em todos a sua volta.


...confissão, dali de onde é impossível manter-se em silêncio.

...feito cometa, algumas pessoas iluminam seu trajeto no espaço, e marcam com sua manifestação, um tempo que passa a lhes pertencer, tempo que paradoxalmente nunca foi um limite para si mesmas.
Ocorre assim com aqueles chamados atualmente de artistas, simplesmente, por não poderem situar-se no quadro das forças produtivas ou dos poderes secularizados. Figuras que nos parecem atônitas diante do que se julga ser o mais perfeito "plano de vida", meta que lhes parece a mais pura insanidade e demência. Assim cruzam o céu feito estrelas cadentes, vistas de longe, muito com o canto dos olhos, sempre engendrando algum desejo oculto, algum romance proibido ou sonho quimérico. Passam apenas para os olhos capazes de mirar para o alto, pois é lá que transitam, perfurando nuvens e digladiando com dragões e titãs. Sorte de quem os viu serem o que são: sonhos apenas de uma noite estrelada.
Mas são estas figuras quixotescas que servem de bode expiatório, o lugar onde os pecados são purgados e onde o inferno se exibe na cena cruel do desespero, da angústia e fome. São os mártires que a sociedade produtiva queima de quando em quando nos seus atos de fé, são Van Gogh, Gauguin, Artaud, Modigliani e um sem número de exilados deste mundo. Suas visões alimentam o que as regras buscam reprimir, fortalecem o homem em sua vida por inteiro, libertando sonhos e motivando revoluções. São os heróis de bilheteria, os best sellers da esquina, fósseis exóticos exibidos nos museus. Aprecia-se-lhes a obra, a técnica, e admira-se-lhes a coragem de terem vivido as experiências que a grande maioria jamais conheceria por si mesma devido a pobreza espiritual. São os mentores malditos, que o riso de escárnio aproveita para exibir-se e para sustentar algum sentido de superioridade na roda de reuniões de boteco. Deixam assim um legado inestimável, sem o qual o gênero humano se esvazia de sua capacidade de transcender e trazer à luz um cosmo perfeito, e ao deixarem esta herança, nos sentenciam ao silêncio de aguardar por sua volta, cruzando repentinamente mais uma vez nosso céu.