Saturday, July 14, 2007

DANÇA PARA SEGURAR O CÉU







Quando soubermos que a diversidade da natureza humana é seu aspecto mais rico, que é a face explícita da infinita natureza de Deus, experimentaremos o salto quântico.


Abaixo, algumas linhas ditas sobre esta questão por Ailton Krenak:




"Os fatos e a história recentes dos últimos 500 anos têm indicado que o tempo desse encontro entre as nossas culturas é um tempo que acontece e se repete todo dia. Não houve um encontro entre as culturas dos povos do Ocidente e a cultura do continente americano numa data e num tempo demarcado que pudéssemos chamar de 1500 ou de 1800. Estamos convivendo com esse contato desde sempre. Se pensarmos que há 500 anos algumas canoas aportaram aqui na nossa praia, chegando com os primeiros viajantes, com os primeiros colonizadores, esses mesmos viajantes, eles estão chegando hoje às cabeceiras dos altos rios lá na Amazônia."




A pintura chama-se Comunhão e reflete um instantâneo da natureza da diversidade em harmonia. Foi criada em 2007 e encontra-se atualmente em Portugal, no Porto. Expressa minha vontade de participar deste processo de esclarecimento que todos nós, cada qual a seu modo, experimenta ao longo da vida.

Tuesday, July 03, 2007

Polítika



Há milênios o homem disse de si que é um animal, um ser Político, e que seu destino é construir seu mundo, no qual, pelo exercício pleno da palavra, da razão e do seu intelecto, ordenará todas as coisas segundo o melhor, o bem e o belo. E tudo o que o homem foi capaz de dizer de si se cumpriu, porém agora, além disto e do que a palavra expressa, corre feito cardume, a voracidade comercial publicitária, que consome a língua humana , e inunda de obscuridade o intelecto e oblitera a razão, que interdita o exercício livre da política e da construção do mundo segundo o melhor, o bem e o belo. É preciso dizer do homem aquilo que o homem não pode dizer pela palavra, é preciso saber pelo homem aquilo que ultrapassa seu mundo, para lá, nesse não-lugar, inominável, saber apenas ouvir.

O FATOR FATO




O fato, é que a razão de ser da pergunta é sempre mais importante do que aquilo que se quer saber sobre as coisas. Porém, essa razão de ser primeira, em geral, se perde facilmente ante aquilo que a vida linear, imediata, responde ser aquilo, que torna-se o fato, substituindo-o pelo que seria a verdade de ser do fato.
Em outras palavras, o fato é uma construção essencialmente individual e regulamentada, única e exclusivamente, pelos recursos internos do indivíduo, ou seja, submetido a um regime da pura interpretação. Considerado desse modo, o fato é que somos levados invariavelmente a nos remeter, e a admitir, que o fato é uma outra coisa agora, do que aquilo que julgamos ser antes de pensá-lo apenas como uma “interpretação subjetiva”. Dessa suposição, conjectura ou investigação, os filósofos concluíram que a verdade não está nas aparências.
E, a despeito da consciência dessa distância entre o que a razão julga ser aparentemente o fato e o que aquilo é de fato, o nos que resta, honestamente, é que pouco ou quase nada se sabe sobre as coisas. E, além disso, o fato não se sedimenta na consciência assim como um “conhecimento” simplesmente, como se fosse uma “coisa certa”, um “destino consumado”, assentido, até averbado para uns tantos burocratas ingênuos, ou até sob a forma de uma certeza científica, ou também como uma dúvida científica. Ele é verdadeiro tanto quanto somos capazes de ser verdadeiros conosco.
Nada possui significado permanente dentro de um contexto que se modifica indefinidamente, e ao que parece... toda verdade é relativa, inclusive esta verdade!
E este é um fato considerável.
Então, o que é o fato senão um “chiste” da razão, o lampejo eleito entre miríades de outros que a excita à soberania ensandecida da enunciação? Razão, esta dama que se releva como a detentora da palavra final, proclamando o veredicto último e proferindo a sentença lógica, executada a frio, para num golpe certeiro congelar o fato e a sua vida de sangue e suor.
Diz-se muito do homem, que é isto, que é aquilo, que na verdade é alma aprisionada ou que é animal evoluído, ou hibrido de algum povo misterioso desconhecido.
Mas quem diz tudo isto senão o próprio homem em sua sede de criar o primeiro fato?
Perguntas sem fim, intermináveis tanto quanto o homem julga ser seu destino. Quanto responder antes de vir a saber sobre o que é perguntar?
Perguntas são fáceis e sempre possíveis, são o fim previsível, no sentido mais evidente do que vem a ser isto - o homem.
As respostas nem tanto assim. Difíceis de ouvir quando a intenção é realmente saber por que se perguntou de fato.
Impostas uma a uma, superadas uma a uma, propagadas e desmentidas por outras, sejam tantos os tempos, sejam tantos os homens, seja feito a vossa vontade afirmar, e de ser quem diz uma verdade, os fatos são humanamente sempre uma mentira convincente, uma foto temporária, correta de algum modo certamente, do mesmo modo que se perderá lá naquele profundo distante que chamamos futuro. Lá serão fatos ainda ou interpretações?
Mas o fato é que o combate é real - dizer o mundo - e de algum modo isto parece inevitável, claro, porque toda afirmação já é a resposta dada ao que não se perguntou ainda, mas que está pulsando nas vísceras deste animal pensante, evoluído ou em desenvolvimento, híbrido de demiurgo ou sombra numa caverna que pode ser seu corpo aprisionando uma alma, luz que é irradiação em si, e que evoluí quando afirma querer iluminar, pois que é melhor segundo sua natureza, que é fato nesta sombra atormentada.
Mas o que é de fato tudo o que se disse até aqui senão o dizer ouvir os ecos assombrados nesta escuridão de destinos da alma liberta da vontade de ser melhor? Já que sabe ser além da consciência que tem de si, uma outra que a sustenta com Vontades inefáveis.
Assim a questão sobre o fato insiste e deseja ser permanente, mas também se recolhe se assim lhe ordena alguma razão resoluta de que o fim humano tem que ser outro.
Somos senhores sempre, soberanos em nossa argúcia, e da nossa ignorância casta quando afirmamos nada saber, estes atores incondicionais de nosso destino inapreensível, este fato eleito para ser isto dentre tantos outros modos de ser, pois não sabemos ser nada além do que dizemos.
Senhores dentre tantos senhores, acotovelando-se entre afirmações sem fim sobre o que deverá prevalecer e ser conhecido sobre os fatos e as coisas que, irreverentemente, desdenham e se antecipam, desaparecendo na mais simples das mágicas, rindo felizes como presentes numa meia de Natal que igualmente permanece à espera da chegada de um castelo com seu Rei e suas donzelas, seus cavaleiros e dragões, seus vilões atirados num fosso de crocodilos, ossos polidos, todos empacotados com fita vermelha e acompanhados de um cartão... o presentinho que ficará para sempre na memória - item cientificamente conhecido pela psicologia - para ser cédula recontada interminavelmente de mente em mente, socando alicerces de areia, gestos imitados que educarão muitas outras e outras, sombras causadas pelas luzes em seus sonhos de saber perguntar a pergunta certa.
Os fatos são, se assim quisermos incontestáveis, inequivocamente interpretados segundo óticas opostas incontestáveis, teses assinadas legitimamente por seus autores, cientes ou não de suas verdades superáveis e de suas limitações, fins e milagres.
Saber sobre o fato sempre será nosso destino... eis a questão de fato, porque o ser ou não ser, já se obliterou e nada nos diz, posto que o ser de fato já não é de interesse humano, afinal é o que parece, embora alguns teimosos se detenham nisso com outra vontade, de modo quase inumano, e considerados por isso até desumanos.