Monday, October 16, 2006

Imaginário

Existe um rico universo imagético com profundas raízes na memória do homem moderno, mas que escapa à sua compreensão e acesso devido ao curso que a civilização contemporânea tomou, distanciando o interesse de tudo aquilo que não se reduz a modos explicativos ou que venha a lhe atender necessidades imediatas do mercado e do Capital.
Assim, este mundo imagético permanece de um modo geral, oculto em velhos manuscritos, porém vem emergindo aqui e acolá em espaços diversos, sobretudo em sites relacionados com o esoterismo. Sobre isto, este interesse que se renova aos poucos e que assume inúmeras variantes, discutirá bem mais adiante.
Antes de pensarmos no contexto em que estas imagens reaparecem em nossos dias, consentiremos que este vasto repertório artístico criado diretamente por alquimistas artistas ou artistas alquimistas, constituído de um sem número de gravuras, pinturas, relevos e esculturas repletos de figuras, regem nossa compreensão do mundo e de nós mesmos. Este fato levou o poeta inglês Willian Blake (1757-1827) a dizer: “todas as coisas que acontecem na Terra se refletem ai [nas obras de arte].”
Podemos afirmar que isto é uma verdade pois nosso imaginário responde a estímulos que se originaram em tempos remotos. Nosso modo de ser, de acreditar, de desejar, de amar e de temer é fruto de um condicionamento cultural, filosófico, político e religioso. Desta maneira, mesmo considerando todas as transformações ocorridas ao longo dos tempos, nos levando a crer na diferença que temos dos nossos ancestrais, em verdade, elas residem no que é aparente, no que reveste as ações e os objetos, porém, pensadas em sua profundidade e em sua essência, nossa forma de ver e imaginar o mundo já estava presente nos gregos – e estes, por sua vez, encontrarão nos egípcios uma forte de influência. Sobre este legado originado no Egito Antigo a alquimia e as artes conhecerão um florescimento no pensamento grego, através destes homens que edificaram um modo peculiar de pensar e fundaram a racionalidade. Porém, a rigor, o Homem ainda ama a liberdade, teme a morte, imagina outros mundos, regiões transcendentais, crê na busca pela felicidade, na salvação, e educa seus filhos segundo aquilo que entende ser o Bem. Nada disso era totalmente diferente à época do deus Thot ou mais tarde de Heráclito de Éfeso.
É verdade que há mudanças significativas, que muito se esclareceu sobre os organismos vivos, sobre as estruturas físicas da matéria, e principalmente sobre os direitos humanos, se bem que poderíamos discutir isto à parte. Portanto, admitimos que somos diferentes de algum modo, isto é inegável, mas, nada disso exclui de nossa mente as impressões que os alquimistas e artistas captaram em suas obras. E é neste imaginário que ainda vivemos em nossas profundezas. Permanecemos imersos neste mundo arquetípico. Na época moderna foi Carl Jung, o grande psicanalista discípulo de Freud, investigando o inconsciente, quem relatou a semelhança entre os sonhos de seus pacientes e a simbologia encontrada nas imagens de obras alquímicas.
É neste contexto que iremos abordar e pensar este enigmático mundo imagético e suas conjecturas sobre a natureza humana. E o faremos sem perder de vista que estas imagens, além de conterem toda uma filosofia, são obras de arte, são também gravuras, pinturas, relevos e esculturas, e nesse sentido, são realizações de artistas empenhados em transformar a matéria em vista de fabricar óleos, ácidos, gomas e pigmentos, fundir metais e colorir vidros e cerâmicas.
A distinção entre estes dois personagens desaparece quando entendidos como investigadores do material que manuseavam, quando refletiam sobre problemas de ordem prática em seus laboratórios e ateliers, e principalmente quando pensavam acerca da representação de um ideal supremo, filosofando a questão da imortalidade da Alma.

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