Tuesday, November 24, 2009

Autoconhecimento

Conhecer é sem dúvida um destino natural do homem, razão pela qual, nasce num dado momento, a necessidade de definir o que é isto – o conhecimento.
Do mesmo modo, torna-se também objeto de investigação, quais seriam as formas de vir a ter acesso aos tipos diferentes de conhecimento. O pensamento posto em movimento nunca mais cessou de voltar a si mesmo. É nesse contexto, dos mais abrangentes, que o termo genérico filosofia surge, e assume significado no imaginário, se instalando permanentemente no vocabulário daqueles que se dedicaram a buscar o saber.
De outro ponto de vista, daquilo que se pode dizer da Filosofia, talvez o mais próximo do que seja a sua real essência e movimento, é que ela é autoconhecimento.
Heráclito sintetiza a questão, afirmando que o que fez foi buscar a si mesmo durante toda a sua vida, reconhecendo, por assim dizer, o caráter deste processo, que não é senão uma jornada rumo à interioridade.
O autoconhecimento aparece finalmente imortalizado no aforismo socrático: conhece-te a ti mesmo, segundo a tradição grega, exposto logo à entrada do pórtico de Apolo em Delphos.
É certo portanto afirmar que o filosofar, por remeter diretamente ao conhecimento de si mesmo, é então uma necessidade e parte intrínseca, decisiva, do desenvolvimento humano em sua inteira grandeza – corpo, mente e espírito. Deste modo, o homem se pôs em atitude reflexiva, projetando-se permanentemente, num movimento transcendental, de si para si, levando e trazendo imagens durante o contato com seu mundo subjetivo, com suas idéias, para finalmente colocar-se frente à sua natureza essencial: sua imaginação e racionalidade.
Foi a partir dessa experimentação, portanto, que nasceu a construção da noção de humanidade, na qual se destaca o edifício da razão, na qual o homem se define como é: um ser que atua reflexivamente, criador de símbolos e significados, comprovando a veracidade dos aspectos fundamentais que norteiam sua existência como gênero.
Mas de todas as conquistas do pensamento, a maior delas certamente, foi a da idéia de Deus, de um Ser supremo, absoluto, infinito, eterno, perfeito, que é também a um só tempo, indefinível e inefável em sua inteira grandeza. Nele, isto é, projetando-se para compreender a grandeza da noção de Deus, o homem acabou por transcender sua condição material, conhecendo o paradoxo de experimentar algo a partir de si, mas que no entanto era absolutamente além de si mesmo. Percebeu assim, os limites de sua razão, que se apresentou incapaz de abranger completamente todos os aspectos desta experiência. Porém, a despeito desta limitação, pode projetar-se ainda num devir permanente como uma entidade autônoma que participa de modo particular nesta realidade universal, extraordinária e absoluta.

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