Certa vez, olhando para o horizonte uma visão se fez iluminar à Moctezuma, viu seu império desvanecer entre sombras. Permaneceu ali, no entanto, rijo, estático em sua magestosa laje aberta para o Atlântico. Não viu - pois seu imaginário não podia lhe oferecer nada nesse sentido - que alinhavam-se neste horizonte iluminado, as caravelas que traziam os atores da trágica consumação do seu devaneio.
Não viu chegar às margens de sua morada, senão os deuses profetizados num outro tempo, numa outra imaginação.
Não viu a urgência de seu tempo, a contingência lhe pedindo ação ao invés de contemplação. Era ele o poder ali instalado que organizava a hierarquia daquele povo, daquela gente que se prostrou diante do mistério vindo dos mares distantes feito sombras pairando sobre as águas. Não soube fazer ser outra realidade que não a do holocausto que abateu sobre os seus. Não havia ali enhuma possibilidade de argumentar uma aliança. E deu-se assim o destino (?), desvaneceu uma era, da qual nada ou quase nada se sabe senão o que as sombras de uma mentalidade alheia pode compreender. Não há aqui culpados, nem inocentes, há o processo histórico em seu devir. Contudo, outra visão hoje se avulta no horizonte próximo, uma visão que ilumina um destino inexorável para todos nós agora, e antevisto pelas atuais magestades em suas lajes de mármore. Que fazem delas então os que em sua mão detém o poder sobre os passos de tantos povos?
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