Tuesday, February 15, 2011

Sobre a Arte

 Dizer sobre a obra de Arte, sempre será uma dificuldade quase intransponível a todo aquele que mira o sentido mais profundo da obra. E está condição prevalece, mesmo quando se trata do depoimento do próprio artista sobre sua obra. No entanto, é a partir dessa dificuldade e condição que inicio uma reflexão possível sobre a Arte que faço.
Acima de tudo, vejo que o ato da criação converge para a materialização do universo interno do artista, revelando sobretudo, a face de uma época na qual ele se situa. Porém, quando falo aqui de época, me refiro às instâncias possíveis de contatar pela ação também da imaginação, ou seja, “lugares” muita vezes regidos antes pela ausência de tempo ou ucronia. Deste modo, este não é um “tempo” povoado por datas comuns é claro, e possui um ritmo diferente do calendário de trinta dias. O tempo interno é paradoxalmente sem tempo, é um salto para além destas limitações que a compreensão exige, mas é também, uma pausa para viver o dia a dia, e para o café. A vida na Arte decorre destes dois tempos de ser: ser Homem/nome e ser mais do que isso, isto é, ser esta vontade de ser para além de si para poder encontrar o que é de todos, o Universal.
Quando olho para minha obra, vejo muito mais do que pretendia mostrar. Meu passado me aparece como o de muitos outros que sei que não fui senão apenas na Obra. Contudo, há uma parcela de significado que ainda me permanece legível, por assim dizer, que ecoa do centro de cada obra e faz girar em torno de si uma constelação de possibilidades únicas de interpretação. A escolha por um dos caminhos leva inexoravelmente a um só destino estético, as sobreposições, se ocorrem, enlaçam apenas as várias pegadas deixadas para trás pelo caminho trilhado. É nesse sentido que a obra atua como centro gravitacional de uma plêiade de idéias únicas. Este centro pulsante pode ser reconhecido também em cada gesto, ou na pintura inteira, ou ainda no conjunto de toda a produção do artista.
Em meu caso, a busca consiste na reflexão sobre as Origens, seja a do Homem, do Universo Mítico, ou de meu País - mas isto não é o mesmo que investigar a realidade história do Brasil, pois a investigação é parte da história investigada também, e tudo que antecede cada decisão e pretensão fará parte indissolúvel desse todo que se revela depois na Obra.
Para tudo sempre há um método, mesmo que oculto do próprio artista.
Minha investigação visa justapor visões aparentemente inconciliáveis, e fazer com que os contrários se completem e se preservem em sua autonomia. Real e imaginado, matéria e intuição, luz e sombra, palavra e eco, tudo se entrelaça sem que eu tenha domínio do que irá fulgurar no final, mesmo porque, custo a admitir que haja algum final, senão, apenas intervalos entre o que sou capaz de discernir e uma totalidade que me ultrapassa. Na verdade, com isso, busco fazer com que estes contrários sejam igualmente além de si mesmos, que transcendam suas características intrínsecas, e finalmente instaurem um novo paradigma: o Universo inefável desocultado da Obra, sobre a qual a linguagem se estende sem alcançar limites.
A imagem que almejo sempre está acima de minha total compreensão, mas é justamente essa indeterminação, a meu ver, que é a origem da sua identidade e o motivo que anima a próxima realização.
Minha formação sempre é o ponto de partida dessa jornada que tem destino desconhecido para mim. Daí a necessidade de mergulhar na tradição, no primitivo e no ancestral, mas persistir em meu tempo externo, fazer a Obra fora do tempo, e manter-me ciente da influência contemporânea.
A Filosofia, a Ciência e a Arte fecundam meus passos e norteiam minha criação. O estudo me cativa profundamente, talvez tanto quanto o fazer. Mas é a intuição que dá o impulso vital, sem ela nada se realiza efetivamente. Sou artista inspirado, confesso.
Há nesse processo criativo, um componente extraordinário, algo que é inefável e ao mesmo tempo inequívoco na Obra, uma espécie de essência mágica talvez. Isto é o que caracteriza o objeto artístico no meu ver, e é o que já se apresentava aos olhos do primeiro homem nas origens da humanidade.
Creio que há muito ainda para se descobrir sobre isto, esse termo inefável e mítico, paradoxal; mas só mentes e espíritos livres, talvez num futuro muito distante dos preconceitos deste tempo, terão condições mais favoráveis para restabelecer um caminho que se perdeu há muito. Este poder sedutor, este elo que se projeta com a Obra, suspendendo a dualidade entre o observador e o objeto, é o sentido último da Arte em meu entender.
Quando focalizo o mundo da tradição e dos ritos ancestrais brasileiros, tenho em mente, evocar esta atmosfera encantada, para que sob suas luzes, a minha visão se amplie além do que os estudos formais me forneceram. O contato com representantes dos povos indígenas do Brasil reforçaram este ideal. O desenvolvimento de minha Obra está pontuado por estas experiências, algumas bastante insólitas até, e que por si mesmas dão alicerce ao que a intuição me induz no conduzir a matéria plástica.
Por outro lado, o convívio na Universidade, estabeleceu o parâmetro científico, o método e a consciência acerca da técnica. Isto constitui um pano de fundo inestimável. Deste modo, o relato do arqueólogo se mescla com a fala do índio, e a Ciência se amplia para limites que comportam o improvável , abrindo o livre para a imagem intuitiva. Assim, já não se trata mais da defesa de uma tese acadêmica, ou de um devaneio artístico tampouco. São opostos que entram em harmonia. A História e a Ciência se banham com a Poesia e nenhum traço de oposição interfere na lógica interna da Pintura.
O tempo das distinções é deixado para trás, e a realidade que a Obra abre está para além do que é possível descrever em apenas um domínio. Neste universo mítico trazido à luz pela evocação ancestral indígena, a vida se beneficia com possibilidades intangíveis e curva-se solenemente aos desígnios que cada imagem encerra.
O contato que mantenho com a natureza hoje decorre dessa postura para com a Arte, as Ciências, a Filosofia e com a memória dos povos ancestrais.
Em 1988 me mudei para Ibiúna, interior de São Paulo, instalando meu atelier numa pequena chácara, onde pássaros e animais silvestres espreitaram meus movimentos com os pincéis. O isolamento foi fecundo e enraizou em mim o gosto pela introspecção. Os anos transcorreram e das matas escuras aportei em uma praia quente no litoral sul de São Paulo – Itanhaém.

English

ABOUT the ART

Say about the work of art will always be an almost insurmountable difficulty to everyone who sees the deeper meaning of work. And it is a condition prevails, even when it comes to the artist's own testimony about his work. However, it is from this difficult condition and that can start a discussion about the art I make.
Above all, I see that the act of creation converges to the materialization of the inner universe of the artist, revealing above all, the face of an era in which it is situated. But when I speak here of the time, I am referring to instances of possible contact by the action of the imagination as well, ie "places" a lot of times before governed by the lack of time or Uchronia. Thus, this is not a "time" populated by common dates of course, has a different pace and the schedule of thirty days. The internal time is no time, paradoxically, is a leap beyond these limitations requires that understanding, but is also a break to live day to day, and for coffee. Life in Art follows this two times to be: Be Human / name and be more than that, that is, that this will be apart from each other in order to find what belongs to everyone, Universal.
When I look at my work, I see a lot more than he intended to show. My past appears to me as the many others who do not know but I was just in the Work. However, there is a modicum of meaning that it still remains readable, so to speak, that echoes the center of each piece and rotates around him a constellation of unique possibilities of interpretation. The choice of one path leads inexorably to a single destination aesthetic, overlaps, if they occur, only those snared several footprints left behind by the path taken. In this sense, the work acts as a gravitational center of a host of unique ideas. This pulsating heart can be recognized also by every gesture, or the whole painting, or the set of all production of the artist.
In my case, the search is to reflect on the origins, be it human, the mythical universe, or of my country - but this is not the same as reality investigate the history of Brazil, because the investigation is part of the story also investigated and all preceding each decision and will claim an indissoluble part of the whole that is revealed later in the Work.
To everything there is always a method, even if hidden by the artist himself.
My research aims to juxtapose seemingly irreconcilable views, and make contraries to complement and preserve in its autonomy. Real and imagined, material and intuition, light and shadow, and word echo, everything is intertwined without me having domain that will sparkle at the end, even, because the cost to admit that there is some final, but only intervals between what I am able to discern a whole and beyond me. In fact, with this, I seek to make these opposites are equally beyond themselves, transcending their inherent characteristics, and finally establish a new paradigm: the universe of ineffable unconcealed Work, upon which the language extends reach without limits.
The image above is always long for my full understanding, but it is precisely this indeterminacy, in my view, that is the source of their identity and the motive that inspires the next achievement.
My training is always the starting point of this journey that has destination unknown to me. Hence the need to dive into the tradition, the ancient and primitive, but persists in my time outside, do the Work out of time, and keep me aware of contemporary influence.
Philosophy, Science and Art enrich and guide my footsteps my creation. The study captivates me deeply, perhaps as much to do. But it is the intuition that gives the vital impulse, without it nothing is done effectively. I am an artist inspired, I confess.
There is this creative process, a component extraordinary , something that is ineffable and yet unmistakable in the work, a sort of magical essence perhaps. This is what characterizes the artistic object in my view and is what has presented itself in the eyes of the first man on the origins of humanity.
I think there is much still to discover about it, this term ineffable and mythical, paradoxically, but only minds and free spirits, perhaps very far future of the prejudices of the time, have more favorable conditions for restoring a path that was lost long ago. This seductive power, this bond that protrudes through the Work, suspending the duality between observer and object, is the ultimate meaning of art in my opinion.
If I focus on the world of tradition and ancestral rites Brazilians have in mind, evoking the atmosphere enchanted , so that under your lights, my vision extends beyond the formal studies that have provided me. Contact with representatives of indigenous peoples of Brazil have reinforced this ideal. The development of my Work is punctuated by these experiences, some quite unusual even for themselves and give to the foundation that intuition leads me to lead in plastics.
Moreover, living in the University, established the scientific parameter, the method and awareness of the technique. This is an invaluable background. Thus, the story of archaeologist merges with the speech of Indian Science and widens to include the limits that unlikely, opening free to the intuitive image. So, now it is no longer the defense of an academic thesis, or an artistic reverie either. They are opposites who come into harmony. History and Science bathe with poetry and no trace of opposition interfere in the internal logic of painting.
The time of the awards is left behind, and the reality that the Work is open beyond what can be described in just one area. In this mythical universe brought to light by evoking ancestral indigenous life intangible benefits from opportunities and bows solemnly to the designs that each image contains.
The contact that I hold today due to the nature of this attitude toward the Arts, Sciences, Philosophy and the memory of ancestral peoples.
In 1988 I moved to Ibiúna, São Paulo, installing my studio in a small yard, where birds and wild animals lurked my movements with the brush. The isolation was fruitful and deeply rooted in me a taste for introspection. The years passed and the forest dark landed on a hot beach on the southern coast of Sao Paulo - Itanhaém.


 


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