Espaço reflexivo, multidisciplinar, multiétnico e pluridimensional... adentra o terreno da Metafísica pelas vias subjetivas da Arte, trazendo de lá,do inefável sentido do ser, a busca por sua realização: Ser além de si mesmo, e permanecer inalterado, imutável e pleno. Bem vindo ao tempo sem unidade e ao espaço sem extensão! Saudações!
Tuesday, November 24, 2009
Autoconhecimento
Conhecer é sem dúvida um destino natural do homem, razão pela qual, nasce num dado momento, a necessidade de definir o que é isto – o conhecimento.
Do mesmo modo, torna-se também objeto de investigação, quais seriam as formas de vir a ter acesso aos tipos diferentes de conhecimento. O pensamento posto em movimento nunca mais cessou de voltar a si mesmo. É nesse contexto, dos mais abrangentes, que o termo genérico filosofia surge, e assume significado no imaginário, se instalando permanentemente no vocabulário daqueles que se dedicaram a buscar o saber.
De outro ponto de vista, daquilo que se pode dizer da Filosofia, talvez o mais próximo do que seja a sua real essência e movimento, é que ela é autoconhecimento.
Heráclito sintetiza a questão, afirmando que o que fez foi buscar a si mesmo durante toda a sua vida, reconhecendo, por assim dizer, o caráter deste processo, que não é senão uma jornada rumo à interioridade.
O autoconhecimento aparece finalmente imortalizado no aforismo socrático: conhece-te a ti mesmo, segundo a tradição grega, exposto logo à entrada do pórtico de Apolo em Delphos.
É certo portanto afirmar que o filosofar, por remeter diretamente ao conhecimento de si mesmo, é então uma necessidade e parte intrínseca, decisiva, do desenvolvimento humano em sua inteira grandeza – corpo, mente e espírito. Deste modo, o homem se pôs em atitude reflexiva, projetando-se permanentemente, num movimento transcendental, de si para si, levando e trazendo imagens durante o contato com seu mundo subjetivo, com suas idéias, para finalmente colocar-se frente à sua natureza essencial: sua imaginação e racionalidade.
Foi a partir dessa experimentação, portanto, que nasceu a construção da noção de humanidade, na qual se destaca o edifício da razão, na qual o homem se define como é: um ser que atua reflexivamente, criador de símbolos e significados, comprovando a veracidade dos aspectos fundamentais que norteiam sua existência como gênero.
Mas de todas as conquistas do pensamento, a maior delas certamente, foi a da idéia de Deus, de um Ser supremo, absoluto, infinito, eterno, perfeito, que é também a um só tempo, indefinível e inefável em sua inteira grandeza. Nele, isto é, projetando-se para compreender a grandeza da noção de Deus, o homem acabou por transcender sua condição material, conhecendo o paradoxo de experimentar algo a partir de si, mas que no entanto era absolutamente além de si mesmo. Percebeu assim, os limites de sua razão, que se apresentou incapaz de abranger completamente todos os aspectos desta experiência. Porém, a despeito desta limitação, pode projetar-se ainda num devir permanente como uma entidade autônoma que participa de modo particular nesta realidade universal, extraordinária e absoluta.
Do mesmo modo, torna-se também objeto de investigação, quais seriam as formas de vir a ter acesso aos tipos diferentes de conhecimento. O pensamento posto em movimento nunca mais cessou de voltar a si mesmo. É nesse contexto, dos mais abrangentes, que o termo genérico filosofia surge, e assume significado no imaginário, se instalando permanentemente no vocabulário daqueles que se dedicaram a buscar o saber.
De outro ponto de vista, daquilo que se pode dizer da Filosofia, talvez o mais próximo do que seja a sua real essência e movimento, é que ela é autoconhecimento.
Heráclito sintetiza a questão, afirmando que o que fez foi buscar a si mesmo durante toda a sua vida, reconhecendo, por assim dizer, o caráter deste processo, que não é senão uma jornada rumo à interioridade.
O autoconhecimento aparece finalmente imortalizado no aforismo socrático: conhece-te a ti mesmo, segundo a tradição grega, exposto logo à entrada do pórtico de Apolo em Delphos.
É certo portanto afirmar que o filosofar, por remeter diretamente ao conhecimento de si mesmo, é então uma necessidade e parte intrínseca, decisiva, do desenvolvimento humano em sua inteira grandeza – corpo, mente e espírito. Deste modo, o homem se pôs em atitude reflexiva, projetando-se permanentemente, num movimento transcendental, de si para si, levando e trazendo imagens durante o contato com seu mundo subjetivo, com suas idéias, para finalmente colocar-se frente à sua natureza essencial: sua imaginação e racionalidade.
Foi a partir dessa experimentação, portanto, que nasceu a construção da noção de humanidade, na qual se destaca o edifício da razão, na qual o homem se define como é: um ser que atua reflexivamente, criador de símbolos e significados, comprovando a veracidade dos aspectos fundamentais que norteiam sua existência como gênero.
Mas de todas as conquistas do pensamento, a maior delas certamente, foi a da idéia de Deus, de um Ser supremo, absoluto, infinito, eterno, perfeito, que é também a um só tempo, indefinível e inefável em sua inteira grandeza. Nele, isto é, projetando-se para compreender a grandeza da noção de Deus, o homem acabou por transcender sua condição material, conhecendo o paradoxo de experimentar algo a partir de si, mas que no entanto era absolutamente além de si mesmo. Percebeu assim, os limites de sua razão, que se apresentou incapaz de abranger completamente todos os aspectos desta experiência. Porém, a despeito desta limitação, pode projetar-se ainda num devir permanente como uma entidade autônoma que participa de modo particular nesta realidade universal, extraordinária e absoluta.
Wednesday, November 11, 2009
Um rio que passou em minha vida
Tuesday, June 09, 2009
ver tigem
Alquimia
Hoje não é um dia comum, como todos os outros que já experimentei, nenhum deles até aqui foi o mesmo pois eu nunca fui o mesmo.
Sendo assim, deste modo que me leva a dizer que nunca fui o mesmo, sou exatamente como qualquer um. Sou como todos os outros são. Sou um estranho.
Se há algo que é diferente em mim, que me distancia de algum outro, é porque isto é igual em todos os que estão despertos, todos os que sabem que sonham e que a vida pode não existir além deste sonho.
Despertei em algum momento que não lembro, mas isto me é indiferente agora pois sei que não posso compreender aquilo que me contém como uma ínfima parte. Falo neste instante do que todos chamam de tempo, desta abstração que é uma das maravilhas da arte da matemática, uma das grandes obras primas da consciência em seu ímpeto de cortejar a razão, sua filha mais nova.
Antes de seguir para o que pode ser absolutamente comum, prefiro preferir o inexato ao abstruso, o inextinguível ao superável, isto que só pode ser solvente da ignorância humana. Não me entristece saber o quanto sou capaz de ignorar as coisas e mais ainda, não me alegro com a idéia de ter algum conhecimento sobre coisas que outros dizem conhecer também.
Evidentemente nada é evidente além de nossa ignorância sobre o quanto ignoramos. Fato este que me aproxima do paradoxal sentimento de me comover com a natureza humana em sua romântica forma de manifestar seus credos, e ao mesmo tempo ser indiferente a ela, ao perceber que tais credos, que justamente caracterizam a espécie humana, são execrados pelos oficiais do saber oficial.
Certa tempo atrás me levantei e vi que andava para algum lugar. Disseram-me que era isto o que fazia enquanto sorriam alegres comigo, pela grandiosidade desse domínio de meu equilíbrio. Perseverei e me mantive a caminho, e até agora sigo para algum lugar, a cada passo observo os sorrisos e gestos convencionados pelo grupo que me domina o sentido de eu ter me levantado desde que me levantei. O mesmo aconteceu com eles há algum tempo.
Li muitas coisas que nunca compreendi, e vi mais tantas outras que nem sequer foram importantes para minha atenção sobre quem as escreveu... livros. Mas foi num desses dias, creio que numa das páginas que lia, que devo ter sonhado sem perceber, e sem mais nem menos nunca mais pude dormir. Uma insônia indefinida me acompanhou desde então, me conduzindo sem tréguas para onde vou, ela me estimula a crer que é possível o desconhecido.
A princípio eu resisti, parecia dormir, ao menos me deitava, fechava os olhos, beijava a mulher, rolava de um lado para o outro e súbito acordava num outro dia, que julgava ser outro, o dia depois de ontem.
Estranhava algo que não entendia, mas amanhã será outro dia.
Foi assim durante algum tempo. Lembro de ter escrito que havia algo acontecendo: “ algo extraordinário é real em mim, algo que me leva a escrever isto, parece que me transborda e toma as minhas extremidades escoando pela caneta”. Na data que marquei ao final da frase eu considerei ser 1985. O mês eu não sei, devo ter dado pouca relevância para deixar de anotar. Relevância que hoje é absolutamente ausente, pois sei que nada há de mais ilusório que o tempo.
De onde penso agora, a idéia de continuidade ou de eu persistir durante o transcorrer de um período de tempo é absurda, sem sentido para que eu a considere válida quanto ao modo de interagir com a minha realidade, isto é, nenhuma sincronia que possa reger seguramente o mundo que habito e também que se ajuste ao mundo de todos os outros.
Sonho, tanto quanto todos os demais, que a vida é repleta de fatos verdadeiros, que possuem fundamentos históricos, filosóficos, religiosos e mais tantas outras razões de ser que norteiam o dia oficial. Segundo este sonho eu prossigo, progrido, evoluo, me desenvolvo, enriqueço e envelheço. Um sonho que alimento ou não segundo minha vontade, que por sua vez é absolutamente incontrolável, senão na ínfima parte do que faço durante minha experiência de mim. Do que posso controlar tiro a imagem de mim que todos os outros também tiram de si mesmos.
Desejo comer e beber por compulsão natural, me habituaram ser deste modo, embora tenha descoberto que tanto o que como ou bebo dependem mais de minha cultura do que de minha constituição física. Vi que há quem coma o que sou incapaz de ingerir e beba igualmente o que jamais poderia consumir por livre e espontânea vontade.
E há ainda o extraordinário caso de alguém que ficou sem ingerir nada sem ter adoecido ou morrido! Este é um fato que se mistura a outros dos dias comuns, mas que me fazem lembrar que não durmo mais.
A liberdade é uma palavra especial dentro do vocabulário humano, capaz de desencadear longas reflexões, disputas, assassinatos e guerras; protagoniza romances que enchem de lágrimas os olhos dos leitores e de dinheiro as contas de quem a defende nos púlpitos e telas de cinema. Salve salve ó liberdade...
Já não durmo e por isso não posso dizer nada em liberdade, só posso dizer tudo que sei com as palavras que me ensinaram, usando conceitos que me engajei, ditos segundo uma gramática e lógica coerentes com a de todos os outros que considero adormecidos. Talvez sonhem em outra língua, outro léxico, nenhuma lógica, metafísica ou ...cartesiana...Nesse caso nada preciso dizer, pois como eu, eles sabem que não sei dizer nada, embora não tenham dúvidas do que sinto ser verdade. Apenas estamos seguindo o sonho de sermos livres para sonharmos acordados.
ps:Acabo de encontrar este texto, inacabado...eu acho...escrito há dois anos, em 2007...mantido preso no esquecimento do cotidiano da máquina e no ofício de Ser humano. Demorei a reconhecer que eu era o autor... só quando li o trecho que falava de algo que escrevi em 1985 é que me surpreendi... afinal era eu me dizendo ... estou perplexo ainda. Continuo mais tarde...Andriole
Sendo assim, deste modo que me leva a dizer que nunca fui o mesmo, sou exatamente como qualquer um. Sou como todos os outros são. Sou um estranho.
Se há algo que é diferente em mim, que me distancia de algum outro, é porque isto é igual em todos os que estão despertos, todos os que sabem que sonham e que a vida pode não existir além deste sonho.
Despertei em algum momento que não lembro, mas isto me é indiferente agora pois sei que não posso compreender aquilo que me contém como uma ínfima parte. Falo neste instante do que todos chamam de tempo, desta abstração que é uma das maravilhas da arte da matemática, uma das grandes obras primas da consciência em seu ímpeto de cortejar a razão, sua filha mais nova.
Antes de seguir para o que pode ser absolutamente comum, prefiro preferir o inexato ao abstruso, o inextinguível ao superável, isto que só pode ser solvente da ignorância humana. Não me entristece saber o quanto sou capaz de ignorar as coisas e mais ainda, não me alegro com a idéia de ter algum conhecimento sobre coisas que outros dizem conhecer também.
Evidentemente nada é evidente além de nossa ignorância sobre o quanto ignoramos. Fato este que me aproxima do paradoxal sentimento de me comover com a natureza humana em sua romântica forma de manifestar seus credos, e ao mesmo tempo ser indiferente a ela, ao perceber que tais credos, que justamente caracterizam a espécie humana, são execrados pelos oficiais do saber oficial.
Certa tempo atrás me levantei e vi que andava para algum lugar. Disseram-me que era isto o que fazia enquanto sorriam alegres comigo, pela grandiosidade desse domínio de meu equilíbrio. Perseverei e me mantive a caminho, e até agora sigo para algum lugar, a cada passo observo os sorrisos e gestos convencionados pelo grupo que me domina o sentido de eu ter me levantado desde que me levantei. O mesmo aconteceu com eles há algum tempo.
Li muitas coisas que nunca compreendi, e vi mais tantas outras que nem sequer foram importantes para minha atenção sobre quem as escreveu... livros. Mas foi num desses dias, creio que numa das páginas que lia, que devo ter sonhado sem perceber, e sem mais nem menos nunca mais pude dormir. Uma insônia indefinida me acompanhou desde então, me conduzindo sem tréguas para onde vou, ela me estimula a crer que é possível o desconhecido.
A princípio eu resisti, parecia dormir, ao menos me deitava, fechava os olhos, beijava a mulher, rolava de um lado para o outro e súbito acordava num outro dia, que julgava ser outro, o dia depois de ontem.
Estranhava algo que não entendia, mas amanhã será outro dia.
Foi assim durante algum tempo. Lembro de ter escrito que havia algo acontecendo: “ algo extraordinário é real em mim, algo que me leva a escrever isto, parece que me transborda e toma as minhas extremidades escoando pela caneta”. Na data que marquei ao final da frase eu considerei ser 1985. O mês eu não sei, devo ter dado pouca relevância para deixar de anotar. Relevância que hoje é absolutamente ausente, pois sei que nada há de mais ilusório que o tempo.
De onde penso agora, a idéia de continuidade ou de eu persistir durante o transcorrer de um período de tempo é absurda, sem sentido para que eu a considere válida quanto ao modo de interagir com a minha realidade, isto é, nenhuma sincronia que possa reger seguramente o mundo que habito e também que se ajuste ao mundo de todos os outros.
Sonho, tanto quanto todos os demais, que a vida é repleta de fatos verdadeiros, que possuem fundamentos históricos, filosóficos, religiosos e mais tantas outras razões de ser que norteiam o dia oficial. Segundo este sonho eu prossigo, progrido, evoluo, me desenvolvo, enriqueço e envelheço. Um sonho que alimento ou não segundo minha vontade, que por sua vez é absolutamente incontrolável, senão na ínfima parte do que faço durante minha experiência de mim. Do que posso controlar tiro a imagem de mim que todos os outros também tiram de si mesmos.
Desejo comer e beber por compulsão natural, me habituaram ser deste modo, embora tenha descoberto que tanto o que como ou bebo dependem mais de minha cultura do que de minha constituição física. Vi que há quem coma o que sou incapaz de ingerir e beba igualmente o que jamais poderia consumir por livre e espontânea vontade.
E há ainda o extraordinário caso de alguém que ficou sem ingerir nada sem ter adoecido ou morrido! Este é um fato que se mistura a outros dos dias comuns, mas que me fazem lembrar que não durmo mais.
A liberdade é uma palavra especial dentro do vocabulário humano, capaz de desencadear longas reflexões, disputas, assassinatos e guerras; protagoniza romances que enchem de lágrimas os olhos dos leitores e de dinheiro as contas de quem a defende nos púlpitos e telas de cinema. Salve salve ó liberdade...
Já não durmo e por isso não posso dizer nada em liberdade, só posso dizer tudo que sei com as palavras que me ensinaram, usando conceitos que me engajei, ditos segundo uma gramática e lógica coerentes com a de todos os outros que considero adormecidos. Talvez sonhem em outra língua, outro léxico, nenhuma lógica, metafísica ou ...cartesiana...Nesse caso nada preciso dizer, pois como eu, eles sabem que não sei dizer nada, embora não tenham dúvidas do que sinto ser verdade. Apenas estamos seguindo o sonho de sermos livres para sonharmos acordados.
ps:Acabo de encontrar este texto, inacabado...eu acho...escrito há dois anos, em 2007...mantido preso no esquecimento do cotidiano da máquina e no ofício de Ser humano. Demorei a reconhecer que eu era o autor... só quando li o trecho que falava de algo que escrevi em 1985 é que me surpreendi... afinal era eu me dizendo ... estou perplexo ainda. Continuo mais tarde...Andriole
Friday, June 05, 2009
IMAGENS E VIDA TRADICIONAL AFRICANA
"Se queres saber quem sou,
Se queres que te ensine o que sei,
Deixa um pouco de ser o que tu és,
E esquece o que sabes".
Tierno Bokar, o sábio de Bandiagara
É preciso afirmar que quando tratamos de conhecer o que é a tradição em relação à história africana, antes temos que considerar a palavra falada, na medida em que é na oralidade que está realmente a fonte que revela a profundidade da complexa rede simbólica que manifesta o sentido da “vida africana”. Portanto, antes é preciso saber ouvir.
“Nas tradições africanas - pelo menos nas que conheço e que dizem respeito a toda a região de savana ao sul do Saara -, a palavra falada se empossava, além de um valor moral fundamental, de um caráter sagrado vinculado à sua origem divina e às forças ocultas nela depositadas”.
Hampaté Bâ - in Introdução à Cultura Africana. Lisboa: Edições 70, 1977
A voz da África tradicional, quando soa, de imediato nos encanta, emerge vibrante em meio ao intricado emaranhado de símbolos e ritos que sustentam o rico universo espiritual do povo africano. Nesta esfera orbitam as palavras e nomes, em torno das imagens dos mitos da criação, dos deuses, dos ancestrais fundadores dos povos, detentores dos conhecimentos esotéricos, que sobrevivem graças à transmissão direta entre as gerações, que desde os tempos remotos ultrapassaram as dimensões temporais e ligaram as épocas. São segredos vivos, portanto, vozes ecoando nos discípulos de mestres ancestrais, vivos em homens que se mantém dedicados no cumprimento de um destino cósmico, no qual, são a um só tempo os guardiões dos mistérios ancestrais e a própria ancestralidade futura. Sendo os herdeiros deste saber, estes homens são, já em vida, membros de uma comunidade de espíritos orientadores das futuras gerações, constituindo junto destes e de todos os demais elementos da cultura, uma só totalidade, na qual se forja a identidade africana.
O que é possível saber sobre a África advém da compreensão dessa realidade integrada, da diluição das dimensões espaço tempo, da liberdade de comunicação entre as esferas material e espiritual, do permanente vínculo entre o presente e o passado transformados nos objetos num só amalgama. Estamos assim, enquanto pesquisadores, diante de uma condição inexorável: para ascender à esta ancestralidade africana temos antes de deixar de ser interpretes para apenas vir a poder “ouvi-la”.
Assim, só quando imbuídos de um olhar liberto de preconceitos, é que entramos no universo dessa produção material, só quando, antes de os consideramos uma materialização similar à nossa noção de arte, encontramos, justamente no silêncio de uma máscara ou de uma cabeça em terracota, a mesma eloqüência da história contada à luz do fogo por um destes anciãos. Podemos então, nesta condição, apreender imediatamente da visão, já não da máscara, mas do ente em si, a sua incrível força expressiva, e finalmente, sermos envolvidos por sua força vital, que nos lança num estranhamento quanto à própria natureza dessa observação, e da que é a essência do objeto.
No âmbito da apreciação descomprometida, do leigo, sabemos que os séculos de hábitos reiterados moldaram a cultura moderna, e conseqüentemente, nosso temperamento e disposição para com a arte.
Em geral, vemos o que queremos, e disto que vemos, pouco reflete o objeto em si, porque na verdade, antes da apreensão direta de uma visão inédita, buscamos no objeto observado aquilo que já conhecemos , buscamos encontrar na máscara ou na cabeça de bronze, aquilo que nos desperta para o mesmo prazer de conhecer as formas, a beleza, harmonia, identificarmos a técnica e maestria, enfim, gostamos muito mais dos processos intelectivos que iniciam com a visão. Preferimos reconhecer, antes de ver.
Sendo ocidentais, somos filhos da racionalidade grega, do escrutínio lógico analítico, da comparação e de seus desdobramentos filosóficos e científicos na modernidade, e por isto, o que está para além dos limites da razão nos soa estranho.
Esta diferença substancial no modo de relação com aquilo que apreendemos das coisas do mundo, é que nos impede de ascender ao puro conhecimento da produção material africana.
Não podemos compartilhar dos mesmos conhecimentos porque não compartilhamos dos mesmos sentimentos, um abismo temporal nos distancia deste mundo onde homens e deuses, vida e natureza são partes indissociáveis de um só destino.
O que é possível saber sobre a África advém da compreensão dessa realidade integrada, da diluição das dimensões espaço tempo, da liberdade de comunicação entre as esferas material e espiritual, do permanente vínculo entre o presente e o passado transformados nos objetos num só amalgama. Estamos assim, enquanto pesquisadores, diante de uma condição inexorável: para ascender à esta ancestralidade africana temos antes de deixar de ser interpretes para apenas vir a poder “ouvi-la”.
Assim, só quando imbuídos de um olhar liberto de preconceitos, é que entramos no universo dessa produção material, só quando, antes de os consideramos uma materialização similar à nossa noção de arte, encontramos, justamente no silêncio de uma máscara ou de uma cabeça em terracota, a mesma eloqüência da história contada à luz do fogo por um destes anciãos. Podemos então, nesta condição, apreender imediatamente da visão, já não da máscara, mas do ente em si, a sua incrível força expressiva, e finalmente, sermos envolvidos por sua força vital, que nos lança num estranhamento quanto à própria natureza dessa observação, e da que é a essência do objeto.
No âmbito da apreciação descomprometida, do leigo, sabemos que os séculos de hábitos reiterados moldaram a cultura moderna, e conseqüentemente, nosso temperamento e disposição para com a arte.
Em geral, vemos o que queremos, e disto que vemos, pouco reflete o objeto em si, porque na verdade, antes da apreensão direta de uma visão inédita, buscamos no objeto observado aquilo que já conhecemos , buscamos encontrar na máscara ou na cabeça de bronze, aquilo que nos desperta para o mesmo prazer de conhecer as formas, a beleza, harmonia, identificarmos a técnica e maestria, enfim, gostamos muito mais dos processos intelectivos que iniciam com a visão. Preferimos reconhecer, antes de ver.
Sendo ocidentais, somos filhos da racionalidade grega, do escrutínio lógico analítico, da comparação e de seus desdobramentos filosóficos e científicos na modernidade, e por isto, o que está para além dos limites da razão nos soa estranho.
Esta diferença substancial no modo de relação com aquilo que apreendemos das coisas do mundo, é que nos impede de ascender ao puro conhecimento da produção material africana.
Não podemos compartilhar dos mesmos conhecimentos porque não compartilhamos dos mesmos sentimentos, um abismo temporal nos distancia deste mundo onde homens e deuses, vida e natureza são partes indissociáveis de um só destino.
Saturday, May 30, 2009
O Rio e a Chuva
Toda história humana está contida na água. Nas profundezas se escondem nosso momento inaugural como seres vivos. Sob a visão mítica de Tales a centelha originária de tudo é a água, visão que os evolucionistas acabam por plagiar com menos imaginação e lirismo. Sendo dos quatro elementos o mais metamorfoseante e o mais profundo, é na água que reencontramos nossa capacidade de ir além dos limites fíxos, para ir de encontro à nossa emoção, e com sorte saborear o sal de alguma boa lágrima.
Thursday, May 28, 2009
Marte: arqueologia futura
Circularidade
De quando em quando povoo este blog, que está sempre no início. Com ele inicio um trajeto circular infinito, porém, sempre inédito. De tudo aquilo que aqui está, de tudo o que digo, que mostro, salta sempre um passado vivo, pulsante, e por isso, em verdade, uma atualização que dirijo a mim. Circulo atrás de meus próprios passos e me espreito de longe. Lá dessa distância imensa, onde me mantenho sempre à frente, rumo a consecussão de meu ser, de quando em quando olho para trás...cruzo o horizonte da razoabilidade, para admitir que entre este Eu que vejo no passado e este que Sou agora, há justamente a verdade que me alimentou a trangredir
minhas angústias e minhas esperanças. É nessa região que se esconde minha vontade de vir a ser.
minhas angústias e minhas esperanças. É nessa região que se esconde minha vontade de vir a ser.
Caminhos
Sunday, May 24, 2009
Wednesday, May 13, 2009
Conhecer
Dentre as inúmeras possibilidades de conhecer as coisas, a Arte aparece como uma das mais completas e também das mais difíceis, pois ao final de uma longa experimentação, o que se revela ao entendimento é que nunca se saberá além do que nos mostra a nossa percepção, nossas sensações, sempre envoltas, necessariamente, na rede de nossas paixões. Digo paixão aqui no sentido de um desejo firme e espontâneo. Por isto, digo que conhecer é um ato de amor, que o conhecimento é o que só pode ser dito daquilo que antes em nós foi uma paixão e sendo assim, o que em verdade conhecemos durante a vida inteira, é apenas fruto do quanto somos capazes de amar as coisas.
No mais, daquilo que as conjecturas racionais edificam, observamos só os efeitos de nossa arguição, que nada mais são do que outra forma de expressar nossa capacidade de amar; nesse caso, do amor pela palavra dirigida pelo pensamento lógico e matemático. Assim, se fosse possivel elaborar uma definição do homem, poderia dizer-se que ele é um ser em permanente movimento criador, um ser que em sua trajetória pela existência percorre sempre caminhos inéditos, porém, inevitavelmente conhecidos de seu espírito, posto que em si é capaz de engendrar toda a história de sua espécie e, sobretudo, de crer naquilo que imagina ser sua origem. Se crermos numa origem divina, recairemos no Amor, explicitado pelas religiões, e se, crermos numa evolução da espécie, seremos levados a admitir que a solidariedade e amor pelas crianças foi a condição para podermos estar neste momento atual. Sempre seremos conduzidos à necessidade primeira do Amor para justificarmos a existência.Tantos são os caminhos do conhecimento, no entanto, todos resultam de uma forma de Arte, entendida aqui como o nome genérico dado a um processo contínuo de aperfeiçoamento das experiências vividas que, mais uma vez, é movido pela força primordial que a tudo impulsiona: o Amor.
No mais, daquilo que as conjecturas racionais edificam, observamos só os efeitos de nossa arguição, que nada mais são do que outra forma de expressar nossa capacidade de amar; nesse caso, do amor pela palavra dirigida pelo pensamento lógico e matemático. Assim, se fosse possivel elaborar uma definição do homem, poderia dizer-se que ele é um ser em permanente movimento criador, um ser que em sua trajetória pela existência percorre sempre caminhos inéditos, porém, inevitavelmente conhecidos de seu espírito, posto que em si é capaz de engendrar toda a história de sua espécie e, sobretudo, de crer naquilo que imagina ser sua origem. Se crermos numa origem divina, recairemos no Amor, explicitado pelas religiões, e se, crermos numa evolução da espécie, seremos levados a admitir que a solidariedade e amor pelas crianças foi a condição para podermos estar neste momento atual. Sempre seremos conduzidos à necessidade primeira do Amor para justificarmos a existência.Tantos são os caminhos do conhecimento, no entanto, todos resultam de uma forma de Arte, entendida aqui como o nome genérico dado a um processo contínuo de aperfeiçoamento das experiências vividas que, mais uma vez, é movido pela força primordial que a tudo impulsiona: o Amor.
Thursday, March 19, 2009
África
“ Aprende a escutar o silêncio,
diz a velha África, e descobrirás o que é música.”
Amadou Hampâté Bâ
diz a velha África, e descobrirás o que é música.”
Amadou Hampâté Bâ
Trata-se, sem dúvida alguma, de uma difícil tarefa, senão, quase impossível, a de remover nossos condicionamentos tão solidamente estruturados, há tanto tempo forjados, para adentrar num universo onde deuses e homens caminham num mesmo espaço. Este é o dilema e o abismo da ciência contemporânea, enquanto contempla as luzes que lhe mostraram como alcançar o domínio sobre a matéria, permanece cega para as luzes que brilham para além dela.
No universo tradicional da África antiga “tudo fala, tudo tem voz, tudo procura nos comunicar um jeito de ser misteriosamente fecundo” ressalta Hampâté Bâ.
A verdade é que devemos nos tornar capazes de ouvir antes de pensarmos acerca de qual é a categoria a que pertence aquele ou este objeto, na medida em que ele é, além de sua aparência, a expressão sensível de um todo que é manifesto para o artista.
No universo tradicional da África antiga “tudo fala, tudo tem voz, tudo procura nos comunicar um jeito de ser misteriosamente fecundo” ressalta Hampâté Bâ.
A verdade é que devemos nos tornar capazes de ouvir antes de pensarmos acerca de qual é a categoria a que pertence aquele ou este objeto, na medida em que ele é, além de sua aparência, a expressão sensível de um todo que é manifesto para o artista.
Saturday, March 14, 2009
Sunday, March 08, 2009
Sunday, February 15, 2009
Arcón de Sastre: premio Bloggers Arts a la creación
Das surpresas que a Arte me reservou poucas me sensibilizaram tanto quanto a indicação deste meu blog para a lista dos melhores blogs de arte na rede, indicação que recebi de Auxi, a Voz das Musas - um nome que me soa quando ouço seus poemas. Deste modo, quase nada posso dizer além de minha satisfação em partilhar deste espaço virtual com a poeta. Muitíssmo obrigado Auxi, sua visita em meu blog é e sempre será uma honra.
Saudações!
Mauro Andriole
Arcón de Sastre: premio Bloggers Arts a la creación
Saudações!
Mauro Andriole
Arcón de Sastre: premio Bloggers Arts a la creación
Friday, February 13, 2009
Auxi e a Voz das Musas
Dificilmente o que escreverei sobre Auxi será à altura do que é deparar-se com sua vasta obra. E não poderia ser diferente, porque a poeta é a Voz das Musas e, portanto, o que nos mostra, canta e encanta está para além do que as palavras são capazes de exprimir aqui por si mesmas.
É por isto que tenho aqui a honra de citá-la como uma das mais sutís e fabulosas experiências que a Net oferece para os aventureiros do mundo das Artes.
Auxi por ela mesma...
Auxi González
Hace mucho que me aficioné a coleccionar belleza. Hace poco que me aficioné a compartirla. Sin embargo, si quieres saber algo de mi, tendrás que cruzar antes todos mis mares...
Conheçam:
Recebi gentilmente desta poeta um prêmio que transcrevo abaixo:
"Este premio ha sido creado con la intención de promover las artes en el los bloggers y así motivar mejor el espíritu solidario de los mismos, fraternos con los bloggers, respeto y admiración, y que promuevan las artes dentro de un espíritu escrito, o imágenes promoviendo así las artes una forma de mostrar afecto, y el reconocimiento de trabajo, agregando valor a la web de quién recibe el premio a la creación artística"Aquellos que acepten el premio han de seguir estas reglas:···- Llevar el logo bloggers Arts- Vincular el blog del cual se recibió el premio- Elegir 7 blogs para otorgarles el premio y comunicárselos- Promover las artes por medio de los Bloggers
Y siguiendo dichas bases, concedo el premio Bloggers Arts a la creación a los siguientes blogs: conect*arte, de Anna; el space de Marcela; recogedor, de Gollus; el space de José Luis; el blog de Mauro Andriole; el blog de CádizFoto; Pintura y Poesía, de Algaire.
Assim, tal qual Ulisses, amarrado ao mastro, parto em minha galera para navegar os mares deste oceano virtual para encontrar os lugares em que a Arte repousa e nos desperta para sua vastidão. Em breve, retorno com o relato destes lugares. É o destino a que a poeta me lança.
Thursday, February 05, 2009
Wednesday, February 04, 2009
SAPAIN
MEMÓRIA DA PEDRA
Sunday, February 01, 2009
Tuesday, January 20, 2009
Logos
Futuro do passado
Nós teríamos sido...fomos talvez menos do que saberemos dizer
...sem jamais imaginar antes de sermos outros que não estes que não fomos no passado...tempo perdido tempo...sem nunca ter sabido além de especular espectros...efêmera flâmula tremendo em vão na mão do herói que já não veio...naufrágio...abismo eterno de amor que nos engole...
APRESENTAÇÃO
Mauro Andriole nasceu na cidade de São Paulo, Brasil, em 16 de Janeiro de 1963.
É artista multimídia: pintor, escultor, ceramista, gravador, desenhista, escritor e filósofo.
Estudou Desenho Técnico de Comunicação no IADÊ em 1979, em São Paulo, e posteriormante formou-se em Filosofia pela Universidade de São Paulo, em 2008.
Iniciou sua carreira profissional ilustrando para o jornal “Folha de São Paulo”.
Foi ilustrador na década de 80, seus desenhos foram publicados em diversos jornais e revistas da cidade de São Paulo. Trabalhou também como cenógrafo, designer e diretor de arte.
A partir de 1986 inicia a exposição de suas obras de arte em galerias e museus no Brasil, Europa e Japão. Suas obras fazem parte de coleções públicas e particulares –
Museu de Arte Contemporânea de Resende, Rio de Janeiro; Museu de Arte de Kushima, Kushima, Japão; Árvore, Cooperativa Artística da Cidade do Porto, Portugal; Galeria do Forte, Chaves, Portugal.
Atualmente Andriole trabalha e vive em Itanhaém, litoral sul de São Paulo.
Sua obra trata de culturas ancestrais do Brasil, dos povos da floresta, seus mitos e cosmologia. Editou a série “Dança para segurar o Céu” em 2003, monotipias que contam a história mítica de um Pagé e seus ritos para sustentar a harmonia do Cosmos.
É artista multimídia: pintor, escultor, ceramista, gravador, desenhista, escritor e filósofo.
Estudou Desenho Técnico de Comunicação no IADÊ em 1979, em São Paulo, e posteriormante formou-se em Filosofia pela Universidade de São Paulo, em 2008.
Iniciou sua carreira profissional ilustrando para o jornal “Folha de São Paulo”.
Foi ilustrador na década de 80, seus desenhos foram publicados em diversos jornais e revistas da cidade de São Paulo. Trabalhou também como cenógrafo, designer e diretor de arte.
A partir de 1986 inicia a exposição de suas obras de arte em galerias e museus no Brasil, Europa e Japão. Suas obras fazem parte de coleções públicas e particulares –
Museu de Arte Contemporânea de Resende, Rio de Janeiro; Museu de Arte de Kushima, Kushima, Japão; Árvore, Cooperativa Artística da Cidade do Porto, Portugal; Galeria do Forte, Chaves, Portugal.
Atualmente Andriole trabalha e vive em Itanhaém, litoral sul de São Paulo.
Sua obra trata de culturas ancestrais do Brasil, dos povos da floresta, seus mitos e cosmologia. Editou a série “Dança para segurar o Céu” em 2003, monotipias que contam a história mítica de um Pagé e seus ritos para sustentar a harmonia do Cosmos.
Saturday, January 17, 2009
O Eclipse da Razão
Uma chave para o entendimento é a compreensão dos limites da razão.
Quando notamos que quase nada sabemos sobre as coisas beiramos a genialidade.
Une des clés de compréhension est de comprendre les limites de la raison.
Lorsque nous avons remarqué que nous ne savons presque rien sur la frontière des choses sur le génie.
Friday, January 16, 2009
Inefável
Thursday, January 08, 2009
As forças conjuradas
A Urna
Subscribe to:
Posts (Atom)