Tuesday, June 21, 2011

Em essência só o mistério

De tudo o que vai se experimentando no curso da breve existência humana, naquilo que é ou se constitui como um item da consciência, ou não, pois os limites entre o consciente e o "demais" ainda são conceitos difusos, resta muito pouco além de estados de alegria ou de tristeza. As variações destes estados de ânimo permeiam a totalidade da experimentação humana, fazendo do homem um ser dual e por consequência, movido a buscar suas satisfações dentro destes dois estados de ânimo. A apatia caracterizada pela "pura racionalidade", para não deixar de lado essa possibilidadec de um terceiro estado, é apenas ilusória, posto que igualmente se tinge ora de alguma satisfação ou externa algum inconformismo com a condição humana. Assim, sem sairmos deste eterno movimento de gangorra entre a laegria e a tristeza viemos construindo um mundo que espelha nossa dualidade.
Ricos alegres ou tristes, pobres alegres ou tristes; aptos alegres ou tristes, inéptos alegres ou tristes, esclarecidos alegres e tristes, ignóbeis alegres e tristes, homens e mulheres, alegres e tristes consigo ou com os outros, com o mundo interno ou externo. Iludidos ou desiludidos, com razão ou sem ela. Uma realidade infinitamente monótona oscilando num ou noutro pólo.
Mas isto é, em essência, algum problema que realmente deva ocupar assim tantas linhas e o tempo de tantos que já se debruçaram sobre a dualidade humana?
Evidentemente que é!
E a prova disto está emergindo de onde menos se espera: da negação.
Negação da dualidade condicional da natureza humana.
Como? Ignorando esta condição.
Simplesmente assim.
Exauridos os caminhos religiosos institucionalizados pelas diversas ordens, extenuada a chance dada ao movimento racionalista cientificista e seus sortilégios magnéticos, analógicos e digitais; banida de vez a tentativa de fundir metafísica estóica com física quântica e as muitas variações desse desejo; a luz de um Sol desponta no horizonte e pouco a pouco retira o contraste vital que norteou a vida até aqui.
O milagre está exposto na rapidez da fala das crianças que sem poder admitir o fracasso do projeto civilizacional de seus antecessores, não podem também reduzir a apreensão do mundo a possibilidades de um menu ultrapassado. Levanta-se no fundo desta simplicidade que brilha nos olhos infantis do século XXI a aniquilação da necessidade da gangorra. Que estupidez pode ser esta que se fala aqui? E não se aprende a viver justamente pela experimentação da gangorra? É claro que sim! A questão é que não podemos sentenciar o homem a reprovação eterna. Será que já não é tempo de perceber que há algo novo acontecendo e que o homem pode ter já aprendido com a brincadeira neste parque chamado Éden?
Muita água ainda cairá soando como música para muito poucos. Não se encontra "tudo em tudo" simplesmente, isto soa ainda como mais um sortilégio da linguagem, mas a despeito do que o conteúdo do que foi dito aqui, daquilo que léxico possa encerrar, ou da presença de alguma ideologia datada na história ou apenas  das idiossincrasias do autor, sobrepassa o mistério.
E no mistério a dualidade se multiplica infinitamente, sendo "tudo em tudo", justamente quando é elevada a zero.

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