Monday, April 11, 2011

o dito pelo não dito

Antes mesmo de iniciar a compreensão deste “texto”, devemos considerar, desde agora, que para além daquilo que ele significa em sua imediata aparência, ou seja, naquilo que nos advém do léxico, dos conceitos e proposições -  diga-se, tão bem organizados pela razão, obra que é realização desta “tradução” das apreensões sensoriais – há também algo que cada qual de nós, em sua “estreiteza” há de por bem, por assim dizer, sempre, e inexoravelmente, atribuir, e que, escapa justamente ao léxico e aos limites da razão; algo que é, ou melhor, que a vem a ser justamente um “mais do que isto”, um texto.
Dizemos, de outro modo mais direto, que um substrato inefável permanece indelével naquilo que a tradução literal deixa flutuando nos espaços vagos das letras...
E o que seria isto senão o mesmo que no núcleo dos átomos também surge como o nada?
De onde um paralelismo desse gênero surge aqui e para onde isto pode nos levar?  Segundo o que encontramos, “isto” é apenas uma espécie de seta que indica para alguma “coisa” que “está próxima de quem fala”...!
Isto é o suficiente?
Nossa inquietude nos lança a mais uma tentativa...quem sabe encontramos mais no mundo grego, algo que diga mais do “isto”.
Nos deparamos com: aυτό ...que nos chega como “ele”.

Τι αντικείμενο = coisa; ό, τι είναι αυτό - το πράγμα = o que é isto – a coisa.

Afinal, mas “isto o que???????”, nos perguntamos agora.
E de imediato, para sermos racionais: isto – o texto!!!!!!!!!

Ora, o texto – e o que mais poderia ser?! – ele só nos leva para onde já estamos há muito tempo, na verdade, desde quando aprendemos a ler. Nos leva para nossa educação, nosso condicionamento mental aos padrões seculares, vícios e virtudes execradas ou homenageadas nos grandes círculos do poder social.
Não saímos então do lugar, mas aparentemente caminhamos de um ponto a outro, do início para um fim. Mas qual é o fim de um texto, a última palavra?
Mas quem dá a última palavra, o autor ou você?
Se o texto ocorre em sua mente, você também não é um autor?
É claro que há Dostoievski, Pessoa, Machado, Joyce, Dumas, Platão e Rousseau. Não se trata disto, de depor contra mestres do léxico e das idéias. Mas o fato é que onde se revela o texto, senão naquilo que ele não é: exatamente no que consideramos a partir de outras fontes que não ele mesmo, ou seja, em nossa imaginação inspirada por um motivo: no algo mais do texto.
Ora, no léxico, a princípio está o princípio. Depois, tudo nasce em nossas experiências, nossas informações, estudos... em preconceitos, medos ou sonhos...tudo na leitura é possível! Ser autor do autor é questão de vontade.
Ontem sentei-me a discutir com Guimarães Rosa, e dias atrás fui dado a rompantes de fúria com Nietzsche, é impossível admitir que eles não estiveram aqui ...em mim e eu os percorri na linha de um livro. Sim, minha casa é muito bem freqüentada e meus amigos se espalham pelo tempo.
Isto não é nada incomum.
Vivemos numa comunidade de palavras ditas e não ditas, escritas que o tempo aparentemente apaga, mas criando apenas o véu de uma ilusão que oculta a verdade já dita dos mais antigos na ingenuidade dos ainda muito jovens para serem livres para imaginar.  
Todo instante é povoado por alguém que escreve ou lê um texto.
É preciso apenas manter nossa indignação por mais um momento, se quisermos algo a mais, então devemos perguntar: o que é isto – o isto?
Bem...na lentidão linear do léxico encontramos o seguinte:

“do Lat.  istu(d) pronome.
Demonstrativo; coisa ou coisas que estão próximas de quem fala; equivalente a esta coisa ou estas coisas.”

Ou encontramos ainda:
Não há o vocativo"

Singular
Plural

Casos
Masculino
Feminino
Neutro
Masculino
Feminino
Neutro

Nominativo
ipse
Genitivo
Dativo
Ablativo
Acusativo

  

Mas para além há ainda a sua imaginação.
Foi um prazer tê-lo aqui comigo, ou melhor, ter ido aí...  em você, mas a hora passa e Gastón Bachelard me aguarda ali no sofá da sala, e sabe como é, não se deixa imortais esperando, eles se entediam com a eternidade e precisam ocupá-la esvaindo pelas palavras não ditas.




2 comments:

  1. Entre uma letra e outra existe o inexorável. É ele que percorre o texto e mostra o deslumbramento que se espalha na pele do papel.

    Ouça por mim...

    http://www.youtube.com/watch?v=ouwEqqhOHjE&feature=player_embedded

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  2. Rachel querida...soou aqui...vibrante e profundo como uma lâmina que corta a água. Há algo de outros tempos nesse compasso, um contínuo que não se sabe a origem...gostei.

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