Uma História
Do que é feita uma história?
Da vontade de contar algo que aconteceu para alguém?
É razoável pensar que esta seja uma origem plausível.
A verdade é que nada pode vir a ser antes de ser de algum modo uma simples vontade, que aqui, em nosso desejo de conhecer é do que é feita uma história.
Vontade essa, essencial, considerada “necessária”, constitutiva da natureza humana. Por isto, fundamentada, racionalizada, fruto de um consentimento portanto, que, por sua vez, gira em torno de uma idéia predominante numa cultura: a idéia de ser história.
Sim... a idéia de história é tão antiga quanto deve ser a própria linguagem, embora assuma formas diversas ao longo da “história”. Contudo, mas que tudo, ela é, na verdade, apenas uma idéia predominante, é uma noção geral dada em uma circunstancia determinada. Isto porque, tal como uma idéia, a história também se articula, se transforma conforme o movimento constante da mente e, deste modo, se incorpora na comunidade dos homens segundo um determinado tipo de apreensão – pois são inúmeras as formas de apreender a realidade. Sob formas cambiantes ela se “faz ser” nos indivíduos, em sua interioridade, como algo que corresponde a um gênero conhecido: história.
Por ser assim, por corresponder a uma necessidade intrínseca à natureza humana é que seu destino é infinito.
Por ser infinita, a história é nunca é só uma no indivíduo, que é infinito para si, na medida em que o homem é um ser no tempo, permeável, mutante e que, sobretudo, pouco sabe de si. A história também é, portanto, “muitas outras” para os outros infinitos indivíduos ao longo das gerações, que a conhecem tal como verdade histórica. Assim, a história segue seu destino, corta o tempo em períodos ecoando sua verdade mutante e infinita.
Cada indivíduo a reflete em si e é, ao mesmo tempo, um reflexo na história, essa estrada de mão dupla, realidade construída por duas imagens irradiando simultaneamente significados semelhantes em sentido contrário. Numa via, fulgura para o indivíduo em sua subjetividade, e lhe garante uma referência interna, na qual, ele é para si um indivíduo histórico no mundo. Noutro vetor, a história resplandece para o mundo – entendido como o conjunto dos membros de uma comunidade - constituindo-o em cada “fala” e “gesto”. A forma ou idéia histórica se imiscui à subjetividade que a recebe como fator identitário para a vida do indivíduo, assentido deste modo, como um membro histórico, incorporado à história comunitária. O indivíduo, por isto, é reconhecido e aceito mediante um consenso geral, forma-se a sociedade histórica: o indivíduo é um ente histórico e seu relato pessoal é referente para os outros indivíduos.
Ele torna-se finalmente um com ela, para ser, a um só tempo, uma partícula da história daquele mundo para os outros, que, igualmente, são para o mundo e também o conhecem segundo suas próprias histórias.
Dissemos isto tudo, até aqui, tal como se “esta verdade” sobre a história fosse verdade. Nela iniciamos um percurso – natural? - em direção à busca de uma só história.
Mas a verdade é que descobrimos, ao longo desse percurso, que há a história da verdade. Portanto, que também há a história da verdade do ocidente, além da história da verdade do oriente, e dos vencidos e dos vencedores, e assim por diante, infinitamente.
Mas, será que se seguirmos um mais adiante, mergulhando na essencialidade do pensamento sobre do que é feita a história nos deparemos com a bifurcação inevitável da dualidade do ser?