Um dos problemas fundamentais de nosso tempo é a comunicação do pensamento. Há muitas formas de linguagem disponíveis, além dos hábitos que por si mesmos também promovem a fragmentação e deformação do discurso em distintas linguagens: científica, artística, técnica, da vida cotidiana e assim por diante, cada qual explicando as coisas segundo sua característica própria, que é dada numa determinada cultura.[1]
Por sua vez, o discurso sobre a Arte oferece ao pesquisador, e lhe permite, conseqüentemente, dizer aquilo que ela , a Arte, manifesta de racional, aquilo que é passível de uma tradução pela via do intelecto.
Mas a despeito desta propriedade caracteristica deste tipo de discurso, de sua capacidade para articular o que é lógico, há também nele uma "potência" que não se reduz à investigação puramente racional, por assim dizer. Digamos que esta potência participa ou "habita" um universo que é "ilimitado". Assim sendo, em si mesmo, este universo abriga o sentido "poético" do ser. Neste sentido, esta "potência" imanente do discurso, por sua natureza, remete o homem à capacidade de associação "extralógica" ou daquilo que a lógica deve negar por definição. Abre-se na consciência, de modo irremediável, a existência de um "algo" indefinível, porém perceptível e criador de significado positivo aos sentimentos.
Este "algo" que persevera como uma essência imanente na articulação das idéias, fica oculto no que a palavra não alcança, isto é, manifesta-se na consciência do leitor “a partir do discurso”, no entanto, sem deixar-se revelar "absolutamente". Subsiste como um "pre-sentimento".
Gaston Bachelard cita que um dos destinos da palavra é a poesia: “Dir-se-ia que a imagem poética, em sua novidade, abre um porvir da linguagem.”[2]
Portanto, esta porção inefável, de natureza subjetiva, que é uma das características da Arte, só é dita "pelo" silêncio da razão, é evocada "nas" entrelinhas do discurso, soando apenas na voz que o leitor ouve "em si", em sua solidão ativa durante a sua articulação intransmitível de significados particulares.
[1] Aristóteles aborda a questão em sua Metafísica: “os vários modos de dizer o ser”.
[2] Introdução, A Poética do Devaneio, Bachelard,Gaston.
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